Solidariedade com o Es.Col.A

Es.Col.A da Fontinha 12.02.2012 19:30 Themen: Freiräume Weltweit
Cinco anos de abandono. Não um abandono involuntário, de quem se esquece, mas doloso, de quem vai recebendo notícias más e prefere fazer de conta que não ouviu. Um abandono de cinco anos, um luxo, se se tiver em conta a sorte de quem sobrevive nas redondezas, escravos de empregos ridiculamente pagos, quando os há, ou de esquemas diários de sobrevivência. Gente descartável para a gestão da cidade, a quem se tirou cinemas, teatros, bailes, festas, vizinhos, últimos resquícios duma urbe em gentrificação que espera que morram e apodreçam. Deixaram o vazio. Das casas abandonadas, das vidas sem perspectivas, do entretenimento massificado pronto a consumir, da escola a convidar ao vandalismo.
Um mês depois de reactivada e aberta à comunidade que deveria servir, volta a ser fechada, com recurso a shotguns, elevadores, carros de bombeiros, uma junção, sem precedentes na zona, de quase todas as forças policiais e cordas para rappel. Para voltar ao abandono, mais triste ainda, por já se ter descoberto que, afinal, sim, é possível.

E houve quase um tremor de terra, pelo menos assim o sentiu quem o viveu, em que, espantados, reparámos que a população da zona já acreditava mais no que podia fazer ali do que no que, eventualmente, a autarquia não ia fazer. Com essa força, um colectivo autogerido, de base assembleária, a decidir por consenso, ganhou à Câmara, uma das mais prepotentes deste pantanal, a batalha pela posse dum espaço ocupado. Activistas, sim, mas também muitos moradores e gente solidária conseguiram discutir, definir estratégias, aprovar textos e actuações que culminaram com a devolução da Escola do Alto da Fontinha ao Es.Col.A.

E a D. Amélia faz o jantar-que-estes-meninos-não-têm-cuidado-com-o-comer, o Diogo organiza um ciclo de cinema, há quem vá ao Yoga, uns jogam basket, badminton, ténis de mesa, futebol, outros andam de bicicleta ou fazem escalada, ou crochet, ou cantam, e vêem filmes e constroem um ginásio, ou uma bicicleta, um computador, um instrumento musical, vêem o email, têm ajuda para os trabalhos de casa, há roupa grátis e há café, capoeira, … e, se não houver o que quiseres, tu fazes.

Nunca aqui houve lei. Nem no despejo, nem na reocupação, nem no re-despejo. Não interessa. Estão a mais? Shotguns! Temos que os deixar voltar? Assina-se uma cena e nem se cumpre. Voltam a estar a mais? Diz nos jornais que até somos amigos e prorrogamos um prazo que nunca existiu.

Nunca aqui houve boa fé. Houve o recuo do derrotado, a espera, o contra-ataque que se quer definitivo. E que o seria, numa terra onde o inevitável fosse a lei. Mas, ali, há muito que se ultrapassou a barreira do possível. E já não se quer voltar atrás.
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